sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sobre tecnologia, tempo e questões da vida moderna

Há algum tempo venho pensando sobre o assunto. Agora resolvi escrever. Não posso dizer que isto é algum tipo de teoria, porque muitas pessoas já pensaram sobre isso. Depois de fazer as duas últimas postagens sobre (ou contra) o Twitter, agora resolvi apresentar o que penso sobre algumas coisas relacionadas a tecnologia, tempo e questões da vida moderna.
Ontem a noite, ao final do programa Metrópolis (TV Cultura), foi apresentado o lançamento do livro "O tempo e o cão", de Maria Rita Kehl (psicanalista e escritora). Não li o livro ainda e não sei dizer se é bom ou não. Porém, a autora cita um verso do Poema "Aproveitar o tempo", de Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa):

"Aproveitar o tempo!  
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.  
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.  
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.  
Aproveitar o tempo!  
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.  
Aproveitei-os ou não?  
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!"

Associei imediatamente esse pensamento de aproveitar ao tempo à correria da vida moderna.
Fazemos tudo e não temos tempo para nada.
Os emails são rápidos. As conversas no msn são rápidas. O dia passa sem a gente se dar conta.
Há alguns dias eu li o artigo publicado no Blog Babel - "A depressão é um sintoma da vida veloz demais":

"A adaptação à velocidade contemporânea, que atropela os processos psíquicos mais delicados, da memória, do devaneio, da fantasia, da chamada vida interior, pode ter como preço a depressão.
A velocidade cria um vazio, e não um preenchimento. Pense numa semana em que você correu muito. A gente olha e parece que não aconteceu nada, parece que só o tempo voou por cima da gente.
O que eu fiz do meu tempo? Nada, só respondi a estímulos, a demandas, e aí vem o sentimento de desvalorização da vida.
...
Qual o papel da tecnologia nisso tudo? Ela agrava o isolamento?

A tecnologia propicia muitas relações, mas sem a presença corporal. E a pulsão vital do homem só se mobiliza diante do outro corpo.
Se ficar apenas mandando mensagens ou e-mails, você pode ficar num estado de esfriamento. Não é falar mal da tecnologia, mas ela não pode substituir o presencial.
Mas o que mais chama a minha atenção é o ritmo veloz que a tecnologia imprime à vida, a velocidade com a qual ela te solicita. A internet, o celular, o trânsito te solicitam sem parar.
Quando você dirige um carro na marginal, você não pode parar de responder a estímulos externos.
A imagem do motorista na auto-pista é uma espécie de metáfora do sujeito contemporâneo.
Ele não pode ficar para trás, não pode diminuir a velocidade e tem de estar atento a todos perigos e solicitações, numa permanente rivalidade com o outro."

E depois de tudo isso, vou começar a prestar mais atenção do que faço dos meus minutos e das minhas horas. E como a tecnologia tem que influenciado a viver freneticamente. Não preciso abandonar o blog, me tornar uma "out" do mundo, mas posso ficar longe do email por um dia todo e não preciso olhar as notícias nos grandes portais de 5 em 5 minutos.

E para terminar:

Da Economia do Tempo

"Podes me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente?" Sêneca - Cartas a Lucílio 64 d.C.


2 comentários:

Amanda disse...

Sim, o que fazemos com nossos preciosos minutos? tenho uma paranóia louca com o tempo, mina cabeça vive em vários tempos diferentes, estou na minha velhice e ao mesmo tempo na infancia. minha cabeça parece acompanhar mais que o presente, tenho medo as vezes de não viver plenamete as pequeninas coisas gostosas do dia a dia justamente por manter a cabeça nas nuvens, me perder na internet, remoer algumas coisas...
Fico pensando e daqui mil anos, pois o tempo irá passar, como estará a sociedade? ainda existiremos? essas bobagens tão importantes ainda terão espaço na vida das pessoas? eu sei, viajo demais mas pensar sobre isso é uma coisa importante, o que fazemos do nosso tempo precioso de vida? daqui a alguns anos seremos apenas lembranças e história. mais um corpo em baixo da mãe terra.

belo post
paz amor e luz

Simone disse...

Com certeza, assino embaixo!