sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Salão de Beleza

E depois de um show muito bom do Zeca Baleiro fiquei pensando na tal história do Salão de Beleza, porque "mundo velho e decadente mundo ainda não aprendeu a admirar a beleza"


"se ela se penteia eu não sei
se ela usa maquilagem eu não sei
se aquela mulher é vaidosa eu não sei
eu não sei eu não sei vem

você me dizer que vai a um salão de beleza
fazer permanente massagem rinsagem
reflexo e outras cositas más
baby você não precisa de um salão de beleza
há menos beleza num salão de beleza
a sua beleza é bem maior do que qualquer beleza de qualquer salão
mundo velho e decadente mundo
ainda não aprendeu a admirar a beleza
a verdadeira beleza a beleza que põe mesa
e que deita na cama a beleza de quem come
a beleza de quem ama a beleza do erro do engano da imperfeição

belle belle como linda evangelista
linda linda como isabelle adjani"
(Zeca Baleiro)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Saudade

E de repente deu uma saudade danada do meu amor. Ô saudade, boa e ruim, ao mesmo tempo.
"Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave, para sentirmos tanta saudade...
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua!
Dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.

Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.

Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista, como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua preferindo suco, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor, se ele continua cantando tão bem, se ela continua detestando o MC Donald's, se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...

É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora, depois que acabou de ler..."
(texto atribuido a Miguel Falabella)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Pela volta do Cafuné

Este texto é do blog do Xico Sá (O Carapuceiro). Amei e estou republicando aqui.

"Dos dengos femininos, ou historicamente femininos, o que mais nos faz falta, é o cafuné.
Nos dias avexados de hoje, não há mais tempo nem devoção para os delicados estalinhos no cocoruto do mancebo. Pela volta imediata do mais nobre dos gestos de carinho e delicadeza. Nem que seja pago, como o sexo das belas raparigas dos lupanares, mas que devolvam vossas mãos às nossas cabeças.
Pela criação imediata da Casa de Cafunés Gilberto Freyre, como me propõe, em sociedade, a amiga Maria Eduarda Risoflora Belém. Ótima idéia a ser espalhada por todo o país. Milhares de casas, guichês, varandas, redes debaixo de coqueiros, sofás na rua... Tudo a serviço dos breves e deliciosos estalinhos dos dedos das moças.
Gilberto Freyre era um entusiasta do cafuné e a ele dedicou páginas e páginas. GF, aliás, escrevia como quem dá cafuné, prosa mole, ritmo dos mais sensoriais. Como também assenta palavras outro Freire, sem o estilingue do Y, o Marcelino de “Contos Negreiros”.
Que machos & fêmeas sejam treinados, em um programa social de emergência, para reaprenderem o hábito do cafuné.
Melhor: que seja feita uma campanha de saúde pública. Ah, quantas doenças de fundo nervoso seriam evitadas, quantos barracos de casais seriam esquecidos, quantos juízos agoniados seriam libertos.
Sem se falar no erotismo que desperta o dengo, como anotou outro sociólogo, o francês Roger Bastide, no seu belo ensaio “Psicanálise do Cafuné”. Pura libido.
Delícia de se sentir; beleza de se ver. O cafuné de uma mulher em outra, ave palavra!, puro cinema, para além muito além do lesbian chic.
Como era comum, na leseira de fim de tarde, nos quintais e nas calçadas.
Ao luar, então, sertões e agrestes adentro, era puro filme de Kurosawa. O resto era silêncio.
Ai que preguiça boa danada, ai que arrepio no cangote, quero de volta meus cafunés.
Viver de brisa, como na receita de Bandeira, numa rede na rua da Aurora, varanda d´Áfricas.
Como pode uma criatura, como esses rapazes de hoje, passarem pela vida sem provar do êxtase de um cafuné?
Pela obrigatoriedade do cafuné nos recreios escolares, nas missas, nos cultos, nos intervalos dos jogos de qualquer esporte.
Não é possível que se condene toda uma geração a viver sem cafuné. Eis uma questão de segurança nacional. Tão importante como aprender a assinar o próprio nome. O cafuné, aliás, é a assinatura em linda e barroca caligrafia de mulher."

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Novos rumos

"Os tempos (já passados) de tristeza e de reconstrução agora ficam sepultados, sem direito a segunda chance. Um novo caminho começa bem na minha frente e ele não deve ser percorrido só.
Vou ter companhia e fazer companhia para alguém. Vou dormir em seus braços e oferecer meu colo.
Em breve.... em breve... Uma nova casa, uma nova vida, um novo caminho, cheio das flores dos tempos quentes."

.......

E entre amigas:
- Aconteceu uma coisa importante durante o final de semana.
- Conta logo... e ai..
- Me pediram uma coisa...
- ...? Pra casar com você!
- hahahahahahaha, eu tinha certeza
- Mas não é casamento oficial não... só pra morar junto mesmo.
- E qual a diferença??? Casa logo.
- Não, ainda não... calma aê...
- Que nada... fala logo quando vai ser e que horário que já vamos arrumando os vestidos.
- Eu quero um casamento logo, pra gente já usar esses vestidos de festa que estão aqui.
- E no baile a fantasia você vai de noiva. Tem até o véu aqui em casa.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Ode a quem?

O horário marcado para a visita do Excelentíssimo Senhor Ministro da Ciência e Tecnologia era entre 11h e 12h. E desde as 8h só se ouvia em nossa sala: “ainda tem mais cartazes para imprimir... cortar... colar... pendurar”. Um ritmo frenético de todos.

Depois de tudo arrumado, era hora de conferir roupa, cabelo, maquiagem. Tudo certo.

As 12h chega a notícia de que ele estava um pouco atrasado. Todos cansados, com fome e ainda assim esperando. Lá embaixo, a mesa posta, os copos e xícaras todos alinhados. O pessoal do laboratório ao lado esperando também. A fita azul na porta aguardando o ato solene.

13h... nada... algum tempo depois finalmente aparece a comitiva oficial. Acontece o ato solene. A fita do novo prédio é cortada. Era o que todos esperavam.

10 minutos após o ocorrido, toda a comitiva some como se fosse um passe de mágica. Todo o esforço, todos os cartazes e organização... tudo por nada... nem uma entradinha em nossa sala... a visita restringiu-se ao hall onde estava o coffee-break.

Depois que todos se foram fica a sensação vazia dos nossos estranhos valores. Para que tudo isso? Por que alguns são considerados tão importantes? Que grande diferença isso fez na minha vida ou na vida dos outros pesquisadores daqui?

A verdadeira ciência e tecnologia sai daqui, das universidades, dos laboratórios, dos centros de Pesquisa & Desenvolvimento, cheios de pessoas “comuns”, que não são esperadas todos os dias por uma comitiva empolada, nem por vários flashes de câmeras digitais.

Então eu dedico este texto a todas as pessoas comuns! Um “Viva” para nós!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Times like these

Hoje é um desses tempos. É assim que me sinto. "I’m a new day rising"

"I, I’m a one way motorway,
I’m a road that drives away, then follows you back home.
I, I’m a street light shining,
I’m a white light blinding bright, burning off alone.

It’s times like these you learn to live again,
It’s times like these you give and give again.
It’s times like these you learn to love again,
It’s times like these time and time again.

I, I’m a new day rising,
I'm a brand new sky that hang the stars upon tonight.
I, I’m a little divided,
Do I stay or run away and leave it all behind"
(Música Foo Fighters)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Visão além do alcance

Na manhã de domingo ele lê o caderno de esportes no sofá. Ela vem falando ao telefone, usando um vestido curto feito de chita e os cabelos presos de um jeito displicente. Passa por ele e vai direto para a sacada.

Só então ele levanta seus olhos e observa. O tecido fino do vestido na luz do sol mostra detalhes de um corpo. As pernas alongadas já são conhecidas, mas seu contorno parece diferente assim.

Ele lembra personagens de desenho e diz que agora possui uma “visão além do alcance”. Ela desliga o telefone e pergunta o que ele disse. A resposta vem: “agora me sinto como o SuperMan, com a visão de raio-X”. Ela ri e diz que só algo assim é mais interessante do que o caderno de esportes de domingo e sai da sacada, acabando com a cena.